IPH - Instituto de Pesquisas Hospitalares

Publicações Revista IPH Revista IPH Nº17 Arquitetura Hospitalar e suas premissas, para iniciantes e iniciados

Arquitetura Hospitalar e suas premissas, para iniciantes e iniciados Elza Costeira
A Editora Rio Books, com o apoio do IPH, a partir do grande interesse a respeito de arquitetura hospitalar, nos dá a satisfação de contar com lançamento de uma nova e revisitada edição da obra Feitos para Curar - a arquitetura e o processo projetual no Brasil, de Luiz Carlos Toledo.

O livro, originário da dissertação de mestrado do arquiteto e urbanista, publicado em 2006 em uma parceria com a ABDEH, já havia se esgotado e seguia com grande procura por alunos e profissionais de arquitetura, ansiosos por estruturar seus projetos e estudos em uma sólida base de conhecimentos sobre os ambientes de atenção à saúde no Brasil. 

Esta aguardada segunda edição de "Feitos para Curar" veio atender esta expectativa, e incluiu a atualização de alguns parâmetros hospitalares, como explica o próprio Toledo em sua abertura, atualização muito necessária, visto terem transcorrido mais de quatorze anos após sua primeira publicação. O livro atualiza, por exemplo, o parâmetro de 70 m² por leito, dado muito usado para embasar o cálculo da área total de um hospital, passando esta estimativa para 100 a 150 m² por leito, refletindo assim a nova realidade do setor. O autor ainda discorre sobre o aumento das medidas modulares, usadas nos desenhos, e a expectativa de outras novidades projetuais que deverão surgir após a pandemia de COVID-19. 

O professor Antonio Pedro de Carvalho, editor-geral de publicações da ABDEH, elabora a Apresentação da edição e ressalta a atualidade e importância do livro e de suas lições únicas para a arquitetura de saúde. O livro conta também com Prefácio de Fábio Bitencourt, ex-presidente da ABDEH (2011 a 2014), que aponta a importância das reflexões apresentadas, desde a evolução histórica dos hospitais, passando pela compatibilização da medicina e da arquitetura nos seus projetos e ressaltando a participação de arquitetos brasileiros, que deixaram um legado sobre o assunto em suas obras. 

A leitura se organiza em seis capítulos, além das Referências e do Anexo. No primeiro capítulo- algumas explicações- o autor apresenta a motivação que o fez debruçar-se sobre o tema, sua importância para a valorização da rede pública de saúde e a metodologia utilizada em sua pesquisa, a partir de profundo levantamento bibliográfico e inúmeras entrevistas com arquitetos que se destacam na prática projetual de edifícios de saúde como Oscar Niemeyer, Mario Ferrer, João Filgueiras Lima e tantos outros importantes atores na consolidação de projetos hospitalares no país.

O segundo capítulo- do hospital terapêutico ao hospital tecnológico- nos leva a retroceder no tempo, e observa a história do edifício hospitalar, desde o seu perfil de separação e exclusão, passando por abrigo caritativo para os excluídos, até o surgimento da "máquina de curar", de Foucault, no final do século XVIII. Aqui observamos, também, a evolução do edifício hospitalar no Brasil, com suas características  tipológicas peculiares, desde as "misericórdias", passando pelos asilos pavilhonares e desaguando nos prédios verticais- os "monoblocos"- que marcam o florescer do movimento moderno e a organização dos serviços de saúde no Brasil e de alguns dos seus mais notáveis arquitetos que contribuíram no assunto da atenção à saúde.

O terceiro capítulo- alguma teoria, um pouco de crítica e muita informação- fala sobre questões estruturantes do projeto hospitalar. Apresenta duas metodologias que embasam a qualidade projetual: as avaliações pós-ocupação e, a acreditação, apresentando a história e consolidação de suas práticas. Em- o processo projetual na literatura especializada- comenta sobre publicações e peculiaridades do edifício hospitalar, ressaltando normas e características de ambientes. Em outras reflexões do capítulo, encontramos menção a arquitetos brasileiros que se dedicaram a alguns projetos hospitalares, como Oscar Niemeyer, Mario Ferrer e outros, no- processo projetual na arquitetura em geral- seguido por reflexões a respeito do- esforço de normatização- que apresenta a história das normas brasileiras, até à RDC 50/2002, última publicada, até então.

Os capítulos 4 e 5 - o hospital, esse desconhecido e o planejamento de saúde e a edificação hospitalar - podem ser considerados fundamentais para estudantes e iniciantes no assunto, pois ambos trazem premissas e fundamentos a serem considerados nos projetos de edifícios de saúde. Além de tipologias, setores, classificações e perfis de estabelecimentos, incluindo sua inserção no Sistema Único de Saúde (SUS), apresenta as etapas e premissas dos projetos hospitalares, para que se possa ter uma instituição preparada para as especificidades e finalidades do atendimento. Estes dois capítulos assinalam as particularidades do assunto no conhecimento das características dos hospitais e marca a importância de sua leitura para todos os interessados no assunto.

O autor nos brinda, no sexto capítulo- na contramão da história- com o estudo das morfologias arquitetônicas e sua contribuição como locus de cura, de acordo com a sua configuração. E, a partir dessas observações, assinala a importância dos projetos de João Filgueiras Lima- o Lelé- para os hospitais SARAH de Reabilitação, com sua inovadora e genial contribuição em aspectos de conforto ambiental, humanização e modulação, empregados na sua arquitetura.

Toledo apresenta suas considerações finais no sétimo capítulo - caminhos para a construção de alternativas projetuais - onde aponta os possíveis desdobramentos dos projetos hospitalares rumo ao futuro. Observam-se aqui algumas preciosidades como uma entrevista informal com Oscar Niemeyer, e menções a figuras de destaque na arquitetura brasileira- como Aldary Toledo, seu pai, e Jarbas Karman (séc. XX), e no panorama internacional- de Casimir Tollet (séc. XIX) e Ernst Codman (séc. XX) até Verderber e Fine (séc. XXI). O autor sublinha, ainda, a importância na qualidade da formação de arquitetos "hospitalares", assim como a consolidação da Política Nacional de Saúde, com a valorização de unidades básicas e de prevenção à saúde.

Além das referências, o livro traz um anexo com entrevista aos arquitetos Regina Barcellos e Flávio Bicalho, que falam sobre a evolução das normas, desde a Portaria 1884 de 1994 até a RDC n 50 de 2002, que estes ajudaram a elaborar junto ao Ministério da Saúde e da ANVISA, apresentando uma visão histórica da consolidação de posturas brasileiras para a arquitetura hospitalar. 

O livro Feitos para Curar constitui-se em leitura fundamental para alunos, estudiosos e profissionais que estejam envolvidos com a tarefa de projetar instituições de saúde. O livro traz, em seu âmago, a vivência do autor em sua trajetória de arquiteto e de urbanista de atuação ímpar, além de dedicado professor e criativo colega. Toledinho, como é chamado pelos amigos, é estimadíssimo por todos que podem desfrutar do seu bom humor, e dedica sua atenção aos assuntos de saúde com a preocupação em promover e estimular ações de justiça social, igualdade e qualidade de vida. Este livro nos ensina a pensar e a desenvolver melhores projetos de ambientes de saúde, como destaca seu autor: com humanização, equidade e cuidado atento com a experiência humana nos hospitais.


Feitos para Curar - Luiz Carlos Toledo
1ª edição, 2020.
Editora- Rio Books
Coordenação Editorial - Denise Corrêa e Daverson Guimarães.
Projeto gráfico, capa e diagramação - Vinicius Scheick
Produção gráfica- Maristela Carneiro
Revisão ortográfica- Algo Mais Soluções
Apoio- IPH
176 p.:il., 16x23 cm. 
ISBN- 978-65-87913-13-1

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